quinta-feira, 13 de junho de 2013

Mais um...



  Até onde iremos sustentar a bandeira da hostilidade, matança e destruição ao invés da bandeira branca absoluta? Estava pensando em pegar um pano branco em casa e ficar sacudindo, vibrando em minha individualidade um breve momento de paz, imaginando milhões de pessoas fazendo o mesmo, querendo o mesmo. E não queremos? Afinal, desejamos a cada respiração sufocante um momento de paz perpétua e de melhora global (pelo menos a grande maioria de nós, independente da profundidade desse desejo). E desejamos do fundo de nossas almas esse momento, seja para nós, seja para nossa família ou para um alguém de algum lugar, de qualquer lugar. Por quê é tão difícil, mesmo com o ápice enérgico devotado à vontade da mudança, mudarmos?

 O ser humano possuí uma elasticidade mental e raciocínio, além de compreensão sentimental e adaptação às variadas situações, como nenhum outro ser sequer chegou perto. Mas mesmo assim, não mudamos. Mesmo querendo, não conseguimos mudar. É o limite sendo sempre ultrapassado que nos coloca em uma situação inacabada de busca da perfeição? Ou de fato é um idealismo incoerente à realidade, e deveríamos nos calar e aceitar que somos fracos, por mais que os mais fortes de nós representem um ideal a ser seguido, não transcendem a esfera do inacabado ou imperfeito. Então perfeição é nada mais que uma linha onde nunca chegaremos, pois a cada passo que damos, ela dá a mesma quantidade. E se pularmos, rodopiarmos ou pararmos, ela faz o mesmo... É o reflexo do desejo inalcançável.

 Pegando gancho ao tema, a revolta nos acolhe em vários momentos, a revolta de ver um amigo perdendo a casa, perdendo a vida, desistindo de um sonho e se apegando ao consumismo frenético, ou um amigo atrás das grades, sejam elas de ferro, sejam elas de plasma, sejam elas de alguma substância desconhecida. E essa revolta nos faz explodir ou implodir. Aqueles que implodem, aceitam a desigualdade temporariamente, e tapam os olhos com uma peneira. Aqueles que explodem, ferem a conformidade dos seres a sua volta, gritando alarmantemente que a situação deve ser mudada. Eu faço parte do segundo grupo, que infelizmente é minoria. A diferença é que explodimos agora para mudarmos o depois, e o primeiro grupo, explode depois para se arrepender do que nunca mudou!

Em decorrência desse desabafo, segue uma letra que fiz...


Vozes do latão



Recito o depoimento das vozes não escutadas
Do pobre, que escorre 10 reais do boy na faca
Do negro, Que é comparado a fezes desde a infância
Do índio, que é posto como lixo com suas crenças e danças.

No Norte, Nordeste o choro da criança seca antes de cair no chão
E o leite da 10ª filha por desidratação
Os livros retratam a miséria quase que imutável
Só não reportam o reinado Sarney soterrado.

Queria ter as mãos de Deus só por um segundo
Acabaria com toda dor e ódio do mundo
Mas o que é me imposto antes de nascer
É a companhia do diabo e um pente pra me resolver.

E os santos tão de terno, pagando propina
pra mais revolta da vacina, mais perda de moradia
gritando nos centros com cruz e falso louvor
Que a porcentagem do seu bolso o torna o salvador

Prazer necrófilo de ambição monetário
Estão na cúpula do três poderes políticos carcerários
Ainda verei o dia no qual vai parar toda chacina
De sonhos, sorriso, vidas, famílias.

Corri por caminho jamais pensados
Com muita dor e sofrimento ladrilhados
Mas tudo isso me deu força para renascer
E lutar cada vez mais para o amor vencer.


E na escola, professor nos trata igual escárnio
Entrega livro com título Guerra e Genocídio
Conhecimento do asfalto, droga, arma, assalto
E os conformistas nos graduam com presídio

Mas aprendi que na vida existem duas vias
A que nós corre de bala e dura poucas milhas
Onde o copo de veneno é abastecimento
E o pó da boca que sustento vira meu oxigênio

Os outros passos seguem a estreita viela
Nos reprimem, discriminam, é outro tipo de cela
A diferença é que a libertação está na arte
Na poesia, grafite, RAP e não mais no crime ou crack

Click, clack, zoom, o sangue escorre na lente da TV
Se ouvir um BUM, é a granada do exílio fudendo você
Escreva antes que seu braço seja amputado
E virar mais carne pro açougueiro milionário

O ideal para o céu, admito, é quase inalcançável
Mas do inferno pode começar aqui em baixo, cuidado
Vamos dar as mãos e rezar de forma mais ativa
Agindo anatomicamente nas palavras, melhorando dia a dia
É a esperança...

Corri por caminho jamais pensados
Com muita dor e sofrimento ladrilhados
Mas tudo isso me deu força para renascer
E lutar cada vez mais para o amor vencer.


De Igor Franceschi Pires Bueno.

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